Aprendizado com o trabalho


Pesquisando a temática da oralidade tivemos a oportunidade de nos aprofundar no universo da oralidade e suas implicações. A oralidade tem “primazia cronológica” sobre a escrita, pois foi através da oralidade que conhecimentos, histórias, saberes e culturas foram ensinados e transmitidos de geração a geração. Mas será que o valor da oralidade se perdeu com o surgimento da escrita? Constatamos que não, a oralidade tem valor único, pois permite uma “inter – ação”, onde para além de se transmitir informações os sujeitos interagem e agem uns sobre os outros, em uma composição rica de elementos, emoções, gestos e expressões. Assim tanto a oralidade quanto a escrita são práticas sociais de linguagem imprescindíveis. Isto porque todos nos comunicamos, seja pela fala que é situacional, quanto pela escrita que não é, mas ambas contextualizadas possibilitam práticas discursivas!
A relação entre oralidade e escrita se destacou em nossas fontes de pesquisa, e muitos autores defenderam uma visão não dicotômica, onde essas são concebidas como atividades interativas e complementares em um quadro mais amplo no contexto das práticas de usos comunicativos e de gêneros textuais sociais e culturais. Na educação o valor dessas práticas também deve ser considerado de forma equiparável e assim como a escrita, o componente oral em sala aula deve ser uma realidade comum, contribuindo, por exemplo, para uma melhor capacidade discursiva dos alunos ou para conscientização frente ao preconceito linguístico, gerado pela confusão entre a língua e a gramática normativa, e pelo fato das tradições da cultura oral nem sempre serem padrões da cultura escrita.
Dessa forma o lugar da oralidade na prática pedagógica deve contemplar toda educação básica, começando pelo ensino infantil, pois é na fase inicial da vivência escolar, quando a criança deixa de estar somente entre familiares ou amigos e começa a participar de interações com seus colegas e professores, onde ela precisa se fazer entender e entender o que se fala, que idéias e opiniões confrontam-se em meio a várias expressões diferentes. É nessa fase que começa o aprendizado do reconhecimento da diversidade linguística sendo necessárias intervenções, já que é através dos sons que o aprendiz se guia nas primeiras produções escritas.
A autora Cancionila Janzkovski Cardoso, no seu livro Da oralidade à escrita: A produção do texto narrativo no contexto escolar, para analisar e interpretar o processo que vivencia a criança quando o mundo da letra começa a invadir o seu mundo da voz, procura discutir a oralidade e a escrita como uma díade complementar. Esse modo de pensar a oralidade e a escrita como complementares, não considera a aprendizagem da leitura e da escrita como transição do mundo da voz para o mundo da letra, mas como uma inter-relação entre esses dois mundos, detectando, com admirável acuidade, o processo pelo qual a criança vivencia, no contexto da aprendizagem escolar, o texto oral e o texto escrito, descobrindo progressivamente as aproximações e os distanciamentos entre eles, suas semelhanças e suas especificidades.
Diante desses e outros apontamentos podemos compreender que a oralidade também se constitui um caminho para a escrita, principalmente no processo de alfabetização. Encontramos obras de estudiosos que sugerem propostas envolvendo a alfabetização na oralidade das crianças, através do diálogo, da discussão e da contradição, como Eglê Pontes Franchi, que em sua pesquisa demonstra uma superação dos mitos que envolvem a relação entre fala e escrita. Mitos esses apresentados por Roxane Rojo em uma de suas obras. Na versão da Coleção Alfabetização e Letramento do Ceale, também encontramos boas contribuições que ajudam os professores nessas intervenções.
Pensando ainda na pedagogia oral, tem se também a presença da oralidade na narração de histórias e ao se trabalhar a narrativa em sala de aula temos a oportunidade de contribuir para que os educandos não só adquiram conhecimento, mas construam o mesmo, por meio de uma prática prazerosa e ao mesmo tempo educativa.
Outro grande aprendizado do grupo se deu pela seguinte indagação: Os surdos tem oralidade? Quando falamos de oralidade, pensamos logo na fala, na produção de sons combinados que, emitidos pela boca, nos possibilitam a comunicação. Mas sabemos que para falarmos, primeiro precisamos aprender, e isso acontece quando ouvimos as pessoas com quem convivemos desde bem pequenos. Mas e no caso dos surdos? Se eles não podem ouvir, será que conseguem falar? Como se comunicam? Já é de conhecimento de muitas pessoas que existe uma língua própria para os surdos, a Língua de Sinais, que é abreviada como LS. No Brasil, a LS é chamada de Libras e tem uma série de particularidades como qualquer outra língua falada tem.
Conversando com a professora de Libras da Universidade Federal de Minas Gerais, Elidéa Lúcia Almeida Bernardino, autora do livro “Absurdo ou Lógica? Os surdos e sua produção linguística”, descobrimos que os surdos além de terem uma língua específica, também tem oralidade, possuem variações dialetais e tem estrutura semântica e sintática próprias.
Esses são apenas alguns dos inúmeros conhecimentos adquiridos através desse trabalho. Sabemos que ainda há muito a aprender, pois o universo da oralidade tem uma extensa dimensão e importância. Nosso objetivo é compartilhar através desse blog essas constatações e conhecimentos. Que os conteúdos e redes constituintes desse suporte possibilitem e contribuam para novas pesquisas e práticas pedagógicas em oralidade.