terça-feira, 14 de junho de 2011


A escrita tem suas vantagens?


Considerando a escrita enquanto forma de linguagem, é possível perceber tamanha importância a ela atribuída em diversas culturas ao longo do tempo. Apesar disso, a fala, que também é uma forma de linguagem, seria menos importante que a linguagem escrita? Ou talvez a linguagem oral esteja subjugada á escrita? Existem estudiosos como Roxane Rojo que discutem as relações entre a oralidade e a escrita. Esta autora, em um de seus textos, apresenta os mitos e perspectivas dessa relação.

No texto “As relações entre fala e escrita: mitos e perspectivas” a autora, acima citada, aponta a existência de uma dicotomia entre linguagem oral e linguagem escrita. Esta dicotomia consiste na divisão ou na separação da fala e da escrita como modalidades (formas de linguagem) distintas. Partindo dessa dicotomia a autora ressalta que criaram-se mitos que contribuíram para que a fala se tornasse submissa em relação à escrita.

Os mitos criados a partir da perspectiva da dicotomia apontam a fala como desorganizada, variável, heterogênea e a escrita como lógica, racional, estável, homogênea; a fala como não planejada e a escrita como planejada e permanente; a fala como espaço do erro e a escrita como o da regra e da norma; a fala como expressão apenas sonora e a escrita como gráfica, entre outros apontamentos. Em relação a efeitos sociais e culturais, tais mitos ainda colocam a escrita como meio de se alcançar estágios mais complexos e desenvolvidos de cultura e de organização cognitiva do indivíduo, dando acesso a poder e mobilidade social.

A autora aponta que a fala (discurso oral) parte da situação em que acontece. Já a escrita se organiza segundo a estruturação interna dos seus significantes, tendo por base mais a sua autotextualidade do que seu contexto. Por exemplo, dois amigos ao se falarem por telefone não precisam detalhar informações sobre uma temática que é conhecida por ambos, eles podem dar foco ás informações novas sobre o assunto. Mas se esta mesma temática fosse notícia em um jornal, revista ou outro veículo de comunicação, seria necessário explicitar cada detalhe, com toda a história para, então, noticiar a novidade.

Ao se transcrever uma entrevista ou conversa gravada é possível perceber interrupções, correções, tempo entre as palavras que vão sendo ditas. Com isso, a autora relata a existência de turnos de fala do diálogo. Numa conversa não é preciso esperar que o outro acabe de falar tudo o que pretende dizer, poi é possível interromper, falar junto, repetir quando concorda, completar, entre outras possibilidades. Estes aspectos da linguagem oral são o que levam a impressão de fragmentação e de desorganização da fala em relação a escrita. Apesar dessas impressões, a autora ressalta que, não se pode afirmar que a fala, mesmo que em uma conversa cotididiana, é desorganizada, fragmentada e herogenea. O que deve ser colocado é que a fala tem outro tipo de organização, adequada ao gênero textual e ao contexto.


ROJO, Roxane. As relações entre fala e escrita: mitos e perspectivas. Caderno Ceale. Ceale/MEC.

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