domingo, 26 de junho de 2011

A ORALIDADE NO ESPAÇO DA SALA DE AULA!



Para tentar entender a questão da oralidade no espaço da sala de aula, primeiramente devemos conceituá-la e entendê-la.
Partindo de uma primeira premissa de que é importante o desenvolvimento da oralidade em sala de aula, nota-se que se faz necessário seguir normas e padrões para se ter o uso da oralidade de forma eficiente. Mas, então, podemos nos perguntar o que seria a norma culta? O que é o ensino do uso da língua em contraposição a descrição da língua?
Ramos (1997, p.2) nos diz que “é um truísmo afirmar que descrição e uso são atividades independentes e que uma ao implica a outra”. Um sujeito pode fazer uso da língua sem saber descrevê-la. Ou seja, pode-se falar português e não ser capaz de saber quem é o sujeito e o objeto direto da sentença pronunciada. Da mesma forma acontece com a descrição da língua. Outro sim, um estudante de lingüística pode saber descrever, a exemplo simples, a língua grega, mas sem saber e precisar falar grego. Sendo assim, cabe ao professor em sala de aula ter como objetivo ensinar o uso ou a descrição da língua materna.
Nesse contexto do ensino da língua materna, ou melhor, da língua portuguesa, podemos sim afirmar que existe uma norma culta, e os professores atuantes em sala de aula deverão mostrar e ensinar aos seus alunos que existe um modelo de fala e escrita que deve ser seguido como norma padrão. Assim, cabe ao professor, em suas atribuições, dar acesso aos alunos à essa linguagem através de vídeos, textos escritos, e outros meios de comunicação.
O fato é que sabemos que a linguagem é predominantemente oral, mas não podemos perder de vista que fazemos uso da escrita que segue padrão e estilo. Além disso, temos a modalidade oral e escrita em que o professor tem que estar ciente de suas diferenças e usos para que não acarrete dificuldades durante o processo de ensino aprendizado de seus alunos. Em outras palavras, o educador deve mostrar as diferenças entre o padrão e o coloquial, mas sem demonstrar rejeição ao modo “não correto” de falar e escrever.
Seguindo esse pressuposto de como se ensinar a língua materna, se faz necessária a mediação do professor para mostrar o que o que é fala e escrita padrão, mas não a única via de aprendizado. Isto porque, mais necessário é o contato do sujeito com o dialeto padrão, para que com o uso das variantes lingüísticas os mesmos possam aprender a usar a língua. Com a prática e que se aprende a teoria!
Para citar exemplo simples para uso e aprendizado efetivo da língua, podemos seguir a atividade proposta por Ramos (1997, p.21) em que o professor poderá selecionar uma notícia que seja do interesse do alunado usando o recurso de vídeo para que aconteça a interlocução entre aluno e professor na demonstração e uso da norma culta. Sendo assim, segue os passos descritos pela referida autora : “(a) seleção do texto a ser gravado (b) transcrição do texto pelo professor; (c) audição do texto original; (d) análise crítica do texto; (e) leitura da transcrição, ouvindo a fita; (f) leitura da transcrição, seguindo ou não o padrão de entoação e pronuncia da fita; (g) redação do texto da notícia ou relatório da atividade realizada na sala naquela aula.” (RAMOS, p.21).
Pelo exemplo citado acima nota-se que com uso da mídia e textos falados aos quais o aluno já tem mais costume e domínio, pode ser fonte para o inicio do uso da norma culta na modalidade escrita, onde a leitura e escrita estão em foco. Nesse caso, o professor pode fazer uso de peças de teatro que estejam vinculados à realidade dos alunos; notícias de jornal do interesse dos alunos; e leituras e compreensão de instruções, tais como: bulas de remédios, roteiros de viagem, manuais, etc. Nesse sentido, cabe ao professor repensar as metodologias utilizadas em sala de aula para que o aluno possa compreender e aprender a fazer uso do continuum que a linguagem oral e escrita representam.
Segundo Castilho (Ramos, p.IX) existe a “necessidade de se inserir nos programas de língua portuguesa informações relativas à linguagem oral, sugerindo que uma ênfase particular deveria ser dada à língua falada, porque esta modalidade retém muitos dos processos de constituição da língua, os quais não aparecem na língua escrita.”
Destarte, o educador deve tomar como ponto de partida o conhecimento prévio e habilidade com língua portuguesa de seu alunos, para que os mesmos possam produzir textos sem grandes dificuldades e tornando o lócus da sala de aula mais agradável. Podemos levar em consideração os dizeres dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, MEC, 1998) que diz que o “ensinar língua oral deve significar para a escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizados e convencionais, que exijam controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania. Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gêneros que apóiam a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa e de outras áreas e, também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo.” Outro sim, proporcionando ao sujeito a consciência do oral para o escrito.


RAMOS, Jânia Maria. O espaço da oralidade na sala de aula. São Paulo. Martins Fontes, 1997.






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