SOARES, Magda. Letramento um tema em três gêneros. 2ª ed. 11ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Resenha de: SOUZA, C.S. Letramento em texto didático: O que é Letramento e Alfabetização. p.29-60, 2006.
Soares (2006) no presente texto apresenta um panorama sobre as palavras e conceitos de Alfabetização e Letramento no contexto da educação brasileira e mundial. Demonstra o significado de Alfabetização, Analfabeto, Analfabetismo e Alfabetizar para explicar o fenômeno Letramento. Ou melhor, de onde surgiu essa nova palavra e qual seu verdadeiro significado. Ainda segundo Soares o Letramento entrou recentemente no vocabulário da educação através da obra “No mundo da escrita: uma perceptiva psicolingüística (1996), de Mary Kato e logo após vê-se na notória presença da discussão em torno desse conceito entre outros pesquisadores em anos posteriores, tais como: Leda Verdiani Tfouni (1988) e Ângela Kleimam (1995). Expõe ainda, que se o seu sentido vem sendo pesquisado é porque o ser humano precisa necessariamente nomear as coisas do mundo par que pareça ter existência. O leitor poderá então conhecer o grande fenômeno da educação que é a palavra Letramento, traduzida da palavra inglesa literaccy erroneamente.
Segundo Soares, no Brasil os conceitos de Alfabetização e Letramento se mesclam e superpõem-se, e freqüentemente se confundem. Nesse momento a autora vem nos precisar que sendo a Alfabetização a ação de alfabetizar, tornar alfabeto, o Alfabetizado é aquele capaz de ler e escrever e o Analfabeto incapaz de ler e escrever. Já o Letrado, é aquele versado em letras e que tem amplos conhecimentos; culto, ilustrado, versado em literatura. Ao contrário, o Iletrado é quem não tem conhecimentos literários. Sendo assim, o Letramento seria a capacidade de ler e escrever não só como uma forma de domínio dos códigos da língua, mas como forma de ler o próprio mundo, ter compreensão sobre o que se lê e escreve.
Nota-se que quando o sujeito que está no mundo tem o estado e a condição de Letrado; ser-no-mundo nos dizeres do Filósofo Martin Heidegger, apresenta mudança em seu lugar na sociedade e no modo de estar nesse mundo. Ou seja, é bastante visível as mudanças no social, cultural e até lingüísticas do ser que “torna-se Letrado” após apropriar-se da escrita, que “vive em estado de Letramento” nas palavras de Soares.
Percebe-se então que, a Alfabetização tem sido entendida tradicionalmente, como um processo de ensinar e aprender a ler e a escrever, e o termo Letramento vêm sendo utilizados por alguns estudiosos para conceituar o processo de desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita nas práticas sociais.
A referida autora aponta para o bom aprendizado do que é o Letramento, o poema “O que é o Letramento?” de Chong. E, para se iniciar a análise do mesmo, deve-se considerar primeiramente que o processo do Letramento é fazer com que o ser humano, que está inserido no mundo das letras e escrita inicialmente pela alfabetização se divirta com a leitura. Como diz Paulo Freire, que aprenda a ler o mundo que está inserido de uma forma diferente, lendo o que o cerca, o que está diante de si. Afinal, se fazer Letrado é poder se guiar por si próprio no mundo. Podemos dizer uma autonomia!
Diante deste fato, a mesma toma como referencial de análise da palavra Letramento aos olhos das palavras inglesa Illiteracy e literacy, na perspectiva de elucidar que estamos atrasados em um século” no uso desse fenômeno. Isto porque o conceito de Letramento já era conhecido desde o final do século XIX pela língua inglesa.
Ao focalizar a diferença do Alfabetizado do Letrado, Soares conclui que estamos diante de diferentes tipos e níveis de sujeitos letrados porque irá depender da necessidade, demanda, meio, contexto social e cultural em que está inserido. Ou seja, o ler e o escrever é um complexo continuum em que pode estar Alfabetizada ou Letrada. Localizar o estado e condição dependerá do ponto desse complexo continuum que o sujeito se apresenta.
Ao longo do texto a autora demonstra com alguns exemplos de nossa vida cotidiana esse enraizamento do conceito de letramento no conceito de alfabetização que pode ser detectado tomando-se para análise fontes como os censos que na década de 40 definia como analfabeto ou alfabetizado aquele que sabia assinar o nome, e que após 40 definia como analfabeto aquele que não sabia ler e escrever um simples bilhete, a mídia, etc. No caso, a autora exemplifica com a reportagem a respeito da “candidatura que são impugnadas após teste de alfabetização” retirada da fonte conhecida e respeitada no Brasil que á a Folha de São Paulo de 1996.
O caso relatado é um fato de que o conceito de Alfabetização e Letramento podem se mesclar e superpõem-se, e se confundir. O Juiz eleitoral ao analisar a candidatura avaliou o Letramento, preocupado que estava com a prática social de leitura e escrita que o candidato deveria assim ter. Já o TRE que foi favorável a candidatura, avaliou apenas a Alfabetização dizendo que os candidatos tinham rudimentos da alfabetização e que não poderiam ser considerados inaptos ao cargo.
Portanto, Soares demonstra que existe uma imprecisão do conceito de Alfabetização e que o Letramento ainda não e conhecido na sociedade. Por isso, segundo a autora que deixa perguntas no ar, precisamos questionar: O Brasil cria condições para o Letramento? Existe uma escolarização real e efetiva de nossa população? O material de leitura é disponível e suficiente na sociedade brasileira? Será que os brasileiros se tornarão alfabetizados e letrado? Aqui letrado não no sentido plural, mas sim no singular. A questão não é simplesmente ter respostas, mas conseguir colocar em prática as respostas a essas muitas perguntas.
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